terça-feira, 3 de agosto de 2010

Idolatria

"E um capricorniano como eu não ama a solidão?Pois sim!Solidão no meio do rebuliço,não a solidão celestial.Solidão terrena.Lugares abandonados.Lento,firme e perseverante.Vive em vários níveis ao mesmo tempo.Pensa em círculos.Sempre subindo,subindo.Não conhece nenhuma mãe,apenas "as mães".Ri pouco e,geralmente é um riso sardônico.Coleciona amigos como coleciona selos,mas é misantropo.Fala com sinceridade,em vez de falar com gentileza.Metafísica,abstrações,exibições eletromagnéticas.Insaciáveis em sua busca por conhecimento.Mergulha até as profundezas.Vê estrelas,cometas,asteróides, onde outros vêem apenas sinais de pele,verrugas e espinhas.Alimenta-se de si mesmo quando cansa de brincar de tubarão devorador de homens.Um paranóico ambulatório,mas constante em seus afetos e em seus ódios.Vêem o ruim antes do bom.A fraqueza em tudo salta imediatamente aos seus olhos.Prendem-se á lembrança dos danos que lhes foram causados.
Perdoam mas não esquecem  nunca.
Sua memória é  fantasmagórica.Filósofos,inquisidores,feiticeiros,eremitas,mendigos.
Profundidade.Solidão.Abismos.Cavernas. Avaros do eu.Entram no mundo como visitantes destinados a outro planeta,outra esfera.Sua atitude é a de quem lança um último olhar em torno,de quem acena perpetuamente em adeus para tudo que é terrestre.Morrem incontáveis mortes enquanto os outros só morrem uma vez.Daí sua imunidade á vida ou á morte.Seu verdadeiro local é o coração do mistério.Ali tudo é claro para eles.Ali vivem separados,desdobram seus sonhos e estão"em casa"

Henry Miller (Big Sur e as Laranjas de Hieronymus Bosch)

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