O Tédio

Quando eu cheguei,percebi que algo estava errado.
Era pra ser uma festa com pessoas trocando abraços e apertos de mão,saudando uns aos outros por mais um sonho realizado ou qualquer outra coisa que valesse a pena.Mas,para eles era tarde,muito tarde.
De repente me veio à cabeça a imagem da guilhotina-todos enfileirados,se empurrando para pegar um melhor lugar na platéia-todos disputando seu espaço para presenciarem uma execução.Não é incrível?
E lá estava Ela,a vítima,conformada.Todos zombavam dela,se divertiam até,mas ela estava tensa,imóvel como um manequim.Me aproximei e tentei consolá-la,mas,óbvio,ela não me entendeu.
As mulheres eram as mais histéricas,desfilando estilo,soberba,olhares de soslaio,inveja,palavras ao pé do ouvido,seguidos de mais sarcasmo,risinhos dissimulados,desejos ocultos.
Os homens,ao contrário,se embriagavam compulsivamente na esperança de terem um momento de espontâneidade,fora de suas rotinas tão entediantes,mal elaboradas.Difícil crêr que alguém lute por isso:eles já não se tocam,não sorriem juntos de seus pares,tudo virou propriedade,frieza,distanciamento e culpa,incluindo mulheres e filhos.E Ela lá,em posição de sentido-tomando conta de tudo,encarregada de que tudo funcionasse às mil maravilhas.Ela era "responsável"por aquilo tudo.Estática,inércia.Como um general na linha de frente,observando o movimento do inimigo.
E que beleza era ver todos bem comportados,andando na linha,em direção a lugar nenhum.Logo a festa acabaria e todos voltariam para seus lares e teriam desperdiçado mais uma vez a chance de colocarem um pouco de sentido na falta absoluta de sentido que suas vidas se tornaram.Mas lutar é mais difícil do que se acomodar."Vamos esperar e ver o que acontece".Era assim há muito tempo e assim será.
Quem sabe amanhã ou depois ...uma outra execução...todos perfilados...de cara virada para o muro...